quarta-feira, 18 de maio de 2011

NOIVADO: COMPROMISSO OU ENROLAÇÃO?



Visto como coisa do passado, o noivado ainda mexe com muitas mulheres. Mas, afinal, vale a pena?

Primeiro, vem a conquista. Depois, o namoro e, finalmente, o casório. Opa, faltou alguma coisa! O noivado. Festa, pedido de casamento na frente dos pais, discursos inflamados, lágrimas incontroláveis, troca de alianças – momento mágico ou mico do ano? Pois é, esse cenário, para muitas mulheres, está mais para novela mexicana do que para uma etapa da vida a dois. Só falta o noivo se ajoelhar e beijar a mão da donzela para deixar o momento ainda mais brega. Coisa do tempo da avó, sabe? No entanto, as defensoras do trio “namoro, noivado e casamento” insistem que noivar é um toque especial e necessário antes do ´grande dia´. O.K., em briga de marido e mulher, a gente sabe que ninguém mete a colher. Entre nós, portanto, está valendo! Noivar ou ir direto ao ponto e casar?

De fato, noivado é coisa do passado. Calma, literalmente! O conceito foi descrito pela primeira vez em 1215, pela Igreja Católica, quando o Papa Inocêncio III decretou que os casamentos deveriam ser anunciados pelos padres publicamente nas igrejas, durante um período fixo. Hoje, noivado é apenas o período entre a proposta de casamento e o casamento propriamente dito, permitindo que o casal viva a experiência da “oficialização” dos laços sem que seja tarde para desmanchá-los.

Muitos noivados são, inclusive, uma espécie de “prova de fogo”: por vezes, é preciso enfrentar a oposição da família e dos amigos, sem contar o jogo de cintura que o casal deve aprender a ter para lidar com outros problemas, como a estressante rotina de organização – e gastos – do casamento.

Vale a pena

Noiva que nasceu para ser noiva mal pode esperar! Depois de um tempão namorando, quer logo exibir a mão para todas as amigas. Foi assim com Léa Pimentel, fisioterapeuta. Após quatro anos de namoro, ela e o noivo resolveram oficializar o casamento. “O noivado é uma etapa mais consolidada para o ´grande dia´, é como um marco. Tão importante quanto ter gravada na memória a data do casamento é ter na lembrança o dia em que você decidiu se casar”, diz.

“Brega, que pensem os outros!”, ri. Mas confessa que não se vê completamente livre de piadas. “Os amigos dele costumam brincar direto, dizendo que eu estou enrolando o meu noivo”, diz Léa, que acha graça. “É porque a gente se dá muito bem, então as pessoas não entendem por que não nos casamos logo. Mas foi uma escolha nossa fazer as coisas desse jeito. Para nós, a vida a dois precisa dessa etapa, até por uma questão financeira. Casamento é coisa muito cara”, afirma.

A fisioterapeuta não fez festa nem nada, mas garante que o noivado foi divertidíssimo. Como as duas famílias são católicas, os noivos participaram de uma cerimônia na igreja. “O padre era muito divertido, descontraído. Me colocou lá na frente, antes do meu noivo, para fazer o pedido de casamento!”, diverte-se. Segundo ela, depois do noivado, o sentimento um pelo outro só cresceu. Eles ficaram mais unidos, pensando mais juntos e estabelecendo projetos concretos para o futuro a dois.

Compromisso oficial

Para a publicitária Palmyra Couto, noivado é, também, um processo que dá a certeza de que é com aquela pessoa que você quer viver, mas pode ser mais importante para a família do que para os noivos em si. “Noivado funciona, às vezes, mais como um título. Para a minha família, que é portuguesa e bem tradicional, é importante, porque expressa oficialmente o compromisso”, explica. “Sou mesmo à moda antiga”, brinca.

E para quem pensa que ser noiva é tarefa fácil, a publicitária dá o recado: “As responsabilidades aumentam, você passa a ter ainda mais envolvimento com o outro. Quando a gente namora, damos ´satisfações´ ao parceiro porque gostamos dele. Com o noivo é diferente, porque ele faz parte, definitivamente, da nossa vida. É quase um casamento!”, avisa. Digamos, um “test drive”. “As pessoas costumam nos dizer que um está enrolando o outro, que noivado é desnecessário, mas nunca damos ouvidos. Isso, para mim, é inveja de quem não tem com quem noivar!”, espeta Palmyra.

“Noivado é justamente isso, um tempo em que você começa a sentir a pressão do que vai assumir e começa a construir a estrutura do casamento”, explica a psicóloga Adriana Falcão Duarte, de São Paulo. “Porque, quando a gente namora, geralmente não sentimos tanta obrigação de frequentar a casa do namorado, de estarmos presentes nos eventos familiares”, explica.

Então, o noivado é o momento de vivenciar, em menor escala, tudo o que está por vir na vida conjugal. “Você aprende a lidar, por exemplo, com a família do noivo. Como sabemos, parentes adoram dar opinião sobre a vida do casal e, como noiva, você pode experimentar isso antes de se casar”, diz Adriana. E ver se agüenta o tranco!

Noivos? Nem pensar!

Daniel Ribeiro*, funcionário público, e a noiva não aguentaram. “Estávamos muito apaixonados e queríamos curtir cada etapa do relacionamento. Então, fizemos tudo como manda o figurino. Demos a festa de noivado e trocamos alianças, com o casamento já marcado para depois de cinco meses”, conta. “Mas o noivado não deu certo. Nossas mães começaram a bater de frente por coisas bobas e depois passaram atormentar a minha vida e a da Michele*. Olha que o nosso namoro já durava três anos, as nossas famílias se conheciam, já tínhamos feito programas juntos. Não sei o que deu nelas”, lembra Eduardo.

Mas a situação ficou tão feia que o próprio casal começou a brigar e resolveu abortar o noivado. “Voltamos a namorar, sem ter ninguém no pé”, suspira, aliviado. “Noivado, nunca mais! Esse negócio de rotular de noivo, noiva, mexe muito com a cabeça das pessoas, pode dar um curto”, ri Daniel, agora já casado. Sim, com a namorada ex-noiva!

Outra que passa, ou pelo menos passava, longe de noivado é Carla Mateus*, publicitária. “Comecei a namorar em abril e, depois de alguns meses, numa festa de amigos, notei que o meu namorado estava estranho, disse que queria conversar comigo. Achei até que ele fosse terminar”, lembra. “Até que, quando chegamos na minha casa, ele disse que eu era a mulher da vida dele e que queria casar comigo! Achei lindo, chorei e, pronto, ele disse que estávamos noivos”, conta.

Carla, que nunca foi muito adepta dessas formalidades do tipo jantar de noivado e festas de casamento, conseguiu fazer com que o noivo não fizesse muito alarde. “Sempre quis morar junto e tal, mas ser noiva não. Até porque acho breguíssima a ideia de chegar em algum lugar e apresentar o cara do lado como meu ´noivo´. Isso nem é estado civil!”, ri. E apesar de ter dito não fazer questão de ganhar aliança de noivado, o noivo a surpreendeu com uma, tempos mais tarde, num jantar a dois. “Ele é o homem da minha vida, com certeza, mas não falo que somos noivos. Prefiro dizer que somos namorados que vão se casar”, afirma.

Já Silvana Martins*, relações públicas, conseguiu fugir do noivado em comum acordo com o namorado. “Espera aí! Para que gastar dinheiro com festa? Além do mais, qual é o sentido de unirmos nossas famílias no noivado se elas já se conhecem, se dão bem?”, pensaram. “Então, preferimos deixar tudo como estava, sem pedido de casamento, discurso, sem choro nem vela”, conta Silvana. Hoje, com três anos de casada, a relações públicas garante que ela e o marido são muito felizes. “Sem precisar ficar noiva”, frisa.

O que manda a etiqueta?

A consultora de etiqueta Ligia Marques explica que o noivado, como foi instituído um dia, realmente perdeu um pouco a razão de ser. “Era um tempo de transição entre a condição de solteira e a de casada. Nessa fase, as moças ganhavam um pouco mais de liberdade com os noivos, já que havia a promessa formal de sair um casamento. Hoje, as mulheres já têm intimidade com os namorados, sem a necessidade de um rito de passagem”, revela. O que, porém, não é motivo para esquecer o noivado de uma vez por todas, ainda mais se você sempre sonhou em trocar alianças antes do casamento.

“Não há problema algum em ficar noiva, não considero fora de moda, mas, ajoelhou, tem que rezar. Se optou pelo noivado, tem que fazer bonito”, avisa a consultora. A etiqueta é a mesma de antigamente: pedido formal do noivo para o pai da noiva, entrega do anel e festa (do tipo que quiserem e que o bolso permitir), onde há a apresentação das famílias de cada um dos noivos para a outra, agendamento da data do casamento, um breve discurso do noivo agradecendo a mão da noiva e demonstrando sua felicidade neste momento, a retribuição do pai da noiva com uma pequena fala, além de bolo e espumante para celebrar.

Estado de espírito

Mas, segundo a psicóloga Patrícia Madruga, do Espaço Criar-se, no Rio de Janeiro, noivado não passa apenas pelo nome ou pela festa. “Só porque você não chama o seu namorado de noivo, nem fez festa para anunciar o casamento à família, não significa que ele não o seja. Assim como não significa que você não é uma autêntica noiva”, diz. “Noivado não precisa ser um rótulo. É, aliás, um estado, um conceito”, argumenta.

Ele começa a partir do momento em que o casal convive diariamente e faz planos, mesmo que distantes, para o casamento. “Não existe tempo certo para o noivado. O casal sabe, no final das contas, estabelecer o tempo que é melhor para os dois”, garante a psicóloga Adriana Falcão. “É preciso apenas bom senso”, frisa. “Muita gente usa o noivado como forma de prender ou enrolar o parceiro, mas, não adianta, se não tiver que dar certo, não vai dar”, acredita a fisioterapeuta Léa Pimentel. Com ou sem noivado!

Data: 26/2/2010 08:56:38
Fonte: Daniela Pessoa / Bolsa de mulher

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