TEXTO BASE: Mateus 24:35: “Céu e terra passarão, mas as minhas palavras nunca”.
Deus falou e louvamos Seu Santo nome por isso! Por meio da Palavra de Deus todas as coisas foram feitas (Hb 11:3). Porque Deus falou é que conhecemos tudo o que sabemos a respeito dele. Ele também falou com o homem, e, como resultado desse diálogo temos a Bíblia Sagrada, uma biblioteca formada por 66 livros. Como os livros da bíblia foram escritos? Em quais materiais e línguas? Quem os escreveu? Quem decidiu quais livros deveriam compor a bíblia? Quem deu a última palavra? Porque esses 66 livros entraram na bíblia, por assim dizer, enquanto outros não entraram? Quais os critérios estabelecidos para que os livros fizessem parte da seleção de livros bíblicos?
Nessa lição nos deteremos nas indagações
acima no intuito de responder à pergunta que está no título da lição
“como a bíblia foi formada”?
I – A PALAVRA DE DEUS ESCRITA
As primeiras palavras que sabemos que
Deus disse foram: “Haja luz” (Gn 1:3). Deus, que é luz, criou já na
primeira vez em que sabemos que ele falou. Deus não diz nada em vão, Ele
não fala como um tagarela ou alguém que vive contando estórias.
Deus costumava falar com o homem na
viração do dia (Gn 3:8), todavia, por causa do pecado, a memória humana
não guardaria toda a informação que procedia do SENHOR. Então Deus
escolheu homens para que escrevessem as suas palavras e que isso ficasse
registrado para as gerações futuras (2 Pe 1:20-21). Deus quis que suas
palavras ficassem registradas por pelo menos dois propósitos:
1) Para evitar o ocultismo – as palavras
que Deus disse não são para ser examinadas apenas por alguns, antes,
todos podem verificar se, de fato, Deus disse aquilo.
2) Para a instrução das gerações
seguintes – em Israel os pais deveriam ensinar os filhos (Dt 6:6-9) e
uma geração deveria contar as maravilhas de Deus à outra geração (Sl
22:30; 78:4, 6; 89:4; 102:18; 135:13; 145:4). Na Igreja Deus colocou
pastores/mestres (Ef 4:11) para a edificação do corpo. Esses são os
motivos principais pelos quais a Palavra de Deus foi registrada, mas a
bíblia, uma vez escrita tem uma quádrupla função, segundo ela mesma
testemunha em 2 Timóteo 3:16: “ensinar, repreender, corrigir e instruir
em justiça”.
Muitos cristãos não sabem fazer uso
deste livro santo que é “inspirado por Deus e útil” (2 Tm 3:16). De
acordo com William e Howard Hendricks há algumas perguntas que podem nos
ajudar na aplicação dos textos bíblicos à nossa vida. Cada vez que
lemos uma passagem bíblica, em oração, podemos nos perguntar:
a) Há um exemplo a ser seguido?
b) Há um pecado a se evitar?
c) Há uma promessa a se apossar?
d) Há uma oração a se repetir?
e) Há um mandamento a se obedecer?
f) Há uma condição a se atender?
g) Há um versículo a memorizar?
h) Há um erro a se notar?
i) Há um desafio a se enfrentar?[1]
II – O ANTIGO TESTAMENTO
O Dr. Donald D. Turner explica com
perspicácia sobre o processo de escrita no Antigo Testamento, como
segue: “Deus revelou por meio de uma voz direta aos homens. Assim falou
Ele aos patriarcas, a Moisés, aos juízes de Israel, e a reis e profetas
(Gn 3:8-12; 18:20-33; Êx 3:14; Nm 12:7-8; Js 1:1-9; 1 Rs 16:34; Is 1:2;
Ez 1:3; Hc 2:2; 2 Sm 23:1-2, etc.). Às vezes essa voz de Deus era
audível como em 1 Samuel 3:1-21; outras vezes era acompanhada por uma
epifania ou aparição em forma visível do Senhor, como em Gênesis 18 ou
Juízes 6 (mas noutras ocasiões Deus também falou por intermédio de um
mensageiro celestial que não era o Senhor, como em Daniel 9:21-22, de
forma que nem sempre as epifanias eram aparições divinas, mas também
podiam ser um anjo); contudo, na maioria das vezes, os profetas que
ouviram a voz de Deus e escreveram a mensagem, fizeram-no sem declarar
se isso lhes foi transmitido por visão, por voz audível, ou por terem
escrito sem perceber o método pelo qual o Espírito Santo inspirava as
Escrituras”[2].
Deus foi falando, se comunicando com os
homens por meio de suas mensagens ao povo e estas foram sendo escritas
sob a condição de não serem acrescentadas nada que Deus não tivesse dito
e sob a permissão de serem incluídas as Palavras que fossem realmente
de origem divina e serviriam de instrução para o povo, posteriormente.
Vemos isso, por exemplo, em Deuteronômio 12:32. Quando Josué recebeu
mensagens de ânimo divino (Js 1:1-9), ele sabia que nada podia ser
acrescentado à Lei do SENHOR, no entanto, ele também sabia que a
revelação divina ainda não estava completa, e, que aquelas palavras que
Deus certamente lhe falara deveriam fazer parte do livro de Deus ao seu
povo. Turner diz: “O próprio Deus não sofre alteração quanto ao Seu
caráter, poder e atributos (Tg 1:17), mas o progresso do plano de Deus
para a redenção da humanidade, e nossa condição de obedientes ou
desobedientes, faz com que Ele mude Sua maneira de tratar conosco (Mc
12:1-2)”[3].
O Antigo Testamento tem o “selo de
qualidade divina”, sobretudo, pela expressão “Assim diz o SENHOR”,
presente nas páginas dos 39 livros por centenas de vezes. Desta forma
temos absoluta certeza que Deus falou àquelas pessoas e continua a falar
conosco. Quando a Epístola aos Hebreus cita o Antigo Testamento ela o
faz, mencionando que o Espírito Santo “diz”, com o verbo no tempo
presente (Hb 3:7). Ou seja, Deus continua falando por meio de sua
Palavra no Antigo Testamento.
Os materiais utilizados para a escrita
do Antigo Testamento, foram desde Pedras (Êx 31:18; 34:1, 4; Dt 4:13;
9:11; 10:3), a couro de animais preparados especialmente para esse fim.
As regras fixadas para a cópia desses manuscritos eram bem rígidas,
vejamos algumas delas:
1) O pergaminho tinha de ser feito da
pele de animais cerimonialmente limpos, e as peles, costuradas umas à
outras, com cordões tirados de animais limpos, era um trabalho que devia
ser feito por um judeu.
2) Cada coluna tinha de ter não mais de sessenta linhas e não menos de quarenta e oito.
3) A tinta, feita segundo fórmula especial, era negra.
4) O escriba tinha que copiar de um manuscrito autêntico e nunca deveria escrever qualquer palavra de memória.
5) Com reverência, tinha que limpar sua
pena antes de escrever a palavra “Deus”, e era absolutamente necessário
banhar todo o corpo antes de escrever a palavra “Jeová” (Yavé – YHWH).
6) Havia regras escritas a respeito da
forma das letras, dos espaços entre as letras, palavras e divisões, a
cor do pergaminho, o uso da pena, etc.
7) O rolo tinha que ser revisado dentro
dos trinta dias seguintes depois de terminado, ou ficaria sem valor. Um
erro condenava a folha; três erros encontrados numa folha só condenava
todo o manuscrito; por três palavras escritas fora da linha, o todo era
rejeitado.
8) Cada palavra e cada letra eram
contadas, e se uma letra faltava ou sobrava, ou se uma letra tocava em
outra, tudo era condenado e queimado em seguida. E havia ainda muitas
outras regras[4].
O Antigo Testamento foi, quase todo,
escrito em hebraico. As exceções são Daniel 2:4-7:28; Esdras 4:8-6:18;
7:12-26; e Jeremias 10:11, que foram escritas em Aramaico[5], e, com uma
simples leitura das passagens fica claro o porque disso.
III – O NOVO TESTAMENTO
O texto do Novo Testamento foi produzido
num período de tempo bem menor que o do A.T., enquanto aquele levou
cerca de 1500 anos sendo escrito, desde Gênesis a Malaquias, o N.T.
levou menos de 100 anos desde Tiago a Apocalipse, cronologicamente. O
processo que envolveu a escrita do N.T. também foi muito mais simples,
no que diz respeito às cópias produzidas. Enquanto havia uma série de
regras para a cópia de um livro do A.T. o N.T. foi copiado por muitos
cristãos e a maioria deles não era copistas profissionais, de acordo com
a necessidade de uma cópia. Lembremos que a impressa só foi inventada
no século XV e nos primeiros séculos uma cópia custava muito caro.
Os apóstolos e pessoas ligadas aos
apóstolos escreveram o N.T. e endereçaram cada livro ou carta a uma
comunidade específica, podendo até mesmo pedir que seus escritos fossem
algo circular entre as igrejas (Cl 4:16; Ap 2:1; 2:8; 2:12; 2:18; 3:1;
3:7; 3:14). Logo surgiram milhares de cópias do texto do Novo
Testamento, a maioria com apenas algumas passagens do mesmo, outras com
apenas os 4 evangelhos, algumas com as cartas paulinas, cartas joaninas
apenas, e etc. De modo que hoje em dia já foram encontrados mais de
24.000 manuscritos do Novo Testamento, incluindo as línguas grega,
armênia, latina, georgiana, gótica e árabe[6], sendo mais de 5.700 só em
grego. Aliás o grego coinê, isto é, comum, o grego falado pelo povo,
foi a língua que Deus quis que o N.T. fosse escrito originalmente.
Diante disso podemos até nos perguntar: “se Deus quis que sua Palavra
ficasse registrada para nós na língua que as pessoas comuns falavam, por
que há tanta gente querendo falar da bíblia de uma maneira tão
complicada hoje?”. Ao todo o N.T. foi citado, nos primeiros séculos,
mais de 1 milhão de vezes[7]. Sua confiabilidade é mais que autêntica.
IV – O CÂNON BÍBLICO
Quem, enfim, determinou quais livros
passariam a fazer parte da bíblia? Foi Deus. E Ele o fez por meio da
aceitação dos livros por ele inspirados na Igreja. O uso dos livros
bíblicos no mundo todo (catolicidade), a autoridade de um apóstolo a
alguém ligado a eles (apostolicidade), e a sã doutrina ali presente,
foram as características presentes nos livros inspirados por Deus. A
Igreja não determinou, por assim dizer, quais livros fariam parte da
bíblia, antes, a Igreja reconheceu e recebeu os livros de Deus. Não foi
nenhum concílio ou mesmo o imperador Constantino, como dizem céticos
ignorantes, quem empurrou goela abaixo os livros nos cristãos.
Usamos a palavra “cânon” para se referir
à “coleção de livros que formam a bíblia”. Originalmente a palavra
cânon significava uma regra ou vara de medir, e figurativamente fala dos
livros bíblicos, que estão de acordo com as regras de Deus para serem
recebidos pelo povo de Deus como Sua santa Palavra. O cânon do Antigo
Testamento repousa, sobretudo no selo “Assim diz o SENHOR” já o cânon do
N.T. foi estabelecido após um herege chamado Marcião ter elaborado o
seu próprio cânon com apenas 11 livros, sendo 10 das cartas de Paulo e o
Evangelho de Lucas, ainda assim muito editado. As listas de livros
Canônicos foram muitas até que no ano 367 d. C. o bispo Atanásio
escreveu a primeira relação de livros canônicos que temos notícia, com
os 27 livros do N.T. e na ordem que conhecemos. Isso só mostrava que a
Igreja de Deus já havia adotado, há muito tempo, os livros que
conhecemos hoje como Novo Testamento.
CONCLUSÃO: A Bíblia é a
Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo e usada por Jesus Cristo
para a transformação do homem que crê. Não há motivos racionais para que
duvidemos da veracidade da Bíblia. Deus é quem vela para cumprir Sua
Palavra.
REFLEXÃO:
1) COMO VOCÊ TEM FEITO PARA APLICAR A BÍBLIA À SUA VIDA?
2) RELATE PARA O GRUPO DE ESTUDO COMO O ANTIGO TESTAMENTO FOI FORMADO.
3) DE QUE MANEIRA VOCÊ PODE CONTINUAR ESTUDANDO ESTE ASSUNTO?
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Bíblia Sagrada Almeida Século 21. Traduzida
em Português por João Ferreira de Almeida. 2 ed. Revisada e atualizada
com o novo acordo ortográfico. São Paulo: Vida Nova, 2010.
BRUCE, F. F. O Cânon das escrituras. São Paulo: Hagnos, 2011.
______. Merece confiança o novo testamento? 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e inerrância das escrituras: uma perspectiva reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
GEISLER, Norman. E NIX, William. Introdução bíblica: como a bíblia chegou até nós. São Paulo: vida, 2006.
GRUDEM, Wayne, COLLINS, C. John, Et alli. Origem, confiabilidade e significado da bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2013.
HENDRICKS, Howard e HENDRICKS, William. Vivendo na Palavra. São Paulo: Batista Regular, 2010.
Manual do seminário de ciências bíblicas. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008.
TURNER, Donald D. Introdução ao velho testamento. São Paulo: Batista Regular, 2004.
[1] HENDRICKS, Howard e HENDRICKS, William. Vivendo na Palavra. 2 ed.São Paulo: Batista Regular, 2010. pp. 275-278.
[2] TURNER, Donald D. Introdução ao Velho Testamento. São Paulo: Batista Regular, 2004. p. 9.
[3] TURNER, Donald D. Introdução ao Velho Testamento. São Paulo: Batista Regular, 2004. p. 17.
[4] TURNER, Donald D. Introdução ao Velho Testamento. São Paulo: Batista Regular, 2004. pp. 32-33.
[5] TURNER, Donald D. Introdução ao Velho Testamento. São Paulo: Batista Regular, 2004. p. 33.
[6] WALLACE, Daniel B. In: Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2013. p. 113.
[7] WALLACE, Daniel B. In: Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2013. p. 113.
por Bruno Cesar Santos de Sousa
Mestre em Teologia do Novo Testamento, coordenador de educação do Seminário da Missão Juvep e é professor na mesma instituição.
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